Canta o poeta
na madrugada serena
aquecido pelo vermelho
do vinho frio
Canta o vento fino
a passar pelo arvoredo
do tempo na mesma
toada onde canta a trovejada
Canta na memória tardia
daqueles que o amam
no devaneio de suas verdades
e desamam quando é o inverso delas
Canta ilusório tempo regresso
que no badalar da meia noite a
quimbanda também cantará
seus sentimentos como cruzeiro
Canta porque é hora da cigarra
estufar o peito e morrer com o seu grito
saudando a possibilidade da chuva
com o sereno da morte.
Canta porque o ódio é o amor decaído
Canta porque a tristeza é o desamor
sem abrigo, canta porque assim você
interpreta, julga e condena.
Canta pois enquanto canta, você
não se condena. Canta porque no canto
você se engana na luz que não emana.
Canta porque na terra, o ato tem mais
haver com a essência imperfeita do que
com a atitude que descondena.
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