O inverso da vida é a morte
e da morte é o tempo
e do tempo é a sorte
e da sorte o nada
e do nada o reverso
e o reverso o fogo
e do fogo, o fogo Bará.
São as incompletudes
é a luz relativa
das idas e vindas
das estradas perdidas
dos becos em outros becos
das encruzilhadas em outras cruzes
das dores em mais e mais dores e
do leite mais leite
de soma alegria
em noites mais noites e em todas madrugadas.
São os lados incertos de outros incertos, certos
é o Sol do quadrante
da ponta sul, no desespero do meio
são os poetas de pretos
e mais brancos em outros negros, nascendo brancos - negros - mulatos.
É o silêncio do vento é o silêncio das folhas o silêncio profano é a noite que esfria pombas - exús em tez sem rugas
sem estrelas e sem céus.
É a garrafa vazia
em cima da mesa
é a lamparina sem óleo
é o terno preto em outros ternos brancos é o charuto apagado é o copo vazio em saliva e desta, um gole de outro goles, salivas descendo, molhando a garganta,
outros goles de mais outros de outras secas gargantas
de secas, securas.
É a pomba que chega tentando aquecer é vestido vermelho
que também se procura
que também não se acha, mas que se perfuma e que outra vez se procura e que outra vez não se acha com a rosa vermelha bem defronte ao corpo de frente aos seios, espelhos. São as curvas mandingas,
de mandingas faceiras, de faceira que seduz e como seduz é o tom de vermelho no freguês que partiu.
É o desejo na dança encantando a sombra, que dos brancos cigarros movimenta suas saias de outras saias, vestidos, de mais vestidos abertos e de corte para os seios despertos e dos recortes, um corpo e de outros corpos um nu. É o contorno do corpo o contorno do perfume o perfume da noite as belezas da noite de giras, que brilham no calor da fogueira. E assim é, e assim continua,
pois em toda noite têm um santo e
todo santo um pecado
todo pecado um refrão
todo refrão tem um tom
e de tom em tom nasce a canção-oração.
É o redimido é o morrido encarnado e lá.
É a palha da costa
na corrente do tempo criando negreiros vindos do toco vindos da cruz da terra esperança
no couro africano
das mãos calejadas e em ferramentas um velho e ao mesmo tempo velho novo velho, Orixá.
É o lamento Bará na composição
É a vida da vida, outra vida ambas excluídas pelas palmas, palmares em jesuítas mãos, de outras mãos, calvários.
É no orvalho do dia a ferida esquecida
é o fim do começo
é o começo do nada do nada o todo do todo, é vida.
É o canto que canta e
em gemidos encantam
o solo esquecido
e assim redivivo
outro tempo acordado
é a esperança do cá
que reencarnou lá
é a nova esperança, esperança; acolá.
Tudo isso não se explica
na poesia da vida
mas do inverso esquecido
já se tem nascido
e ao mesmo tempo esquecido
as vidas
em outras vidas,
formando mais novas vidas
em encantos Barás.
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